MESTRES DOS SABERES E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO - PAIXÕES DAS MINHAS PESQUISAS!


CONHECENDO OS MESTRES DOS SABERES

Meu interesse em pesquisar os Mestres do Saber Popular iniciou-se quando conheci Dona Zilda Paim de Santo Amaro da Purificação, os textos de Hildegardes Vianna folclorista baiana maravilhosa e os livros dos também baianos Edson Carneiro e Manuel Querino, enormes intelectuais da nossa cultura popular.

Mas minha paixão de fato, foi ganhando corpo e palavras, sobretudo quando conheci os Mestres Sr Miguel Araújo e Dona Nilza em Taperoá, Baixo Sul da Bahia a Mãe Silvia Matriarca da Umbanda e Dona Zéo Rezadeira, e pude através das muitas conversas com eles e narrativas perceber que de fato, a cultura popular na Bahia, permanecem vivas porquê existem essas pessoas fundamentais para sua manutenção.
Cada Mestre que conhecia ia ampliando meu conceito de cultura. Com Sr Miguel e Dona Nilza, compreendi a importância do fazer, das artes, dos legados. Na Comunidade de Conceição de Salinas, onde pesquisei em 2014 para o mestrado, percebi que além da grandeza cultural, existe o papel primordial destas mulheres na manutenção da vida. Parte das mulheres da comunidade, são marisqueiras ou mariscadeiras que vivem para sustentar suas famílias. As mesmas vivem uma vida de muito trabalho, pois há uma rotina de trabalho, puxando redes, auxiliando os maridos ou companheiros na pesca, negociando peixes e mariscos, mariscando, cozinhando ou tratando peixes e mariscos que são retirados do mar de Conceição, considerada por muitos pescadores como maior porto pesqueiro da região.


Desta forma, ao conversar com essas mulheres fui descobrindo que todas elas fazem parte de uma cadeia produtiva da pesca, onde grande parte atua direta ou indiretamente na manutenção desta comunidade pesqueira. Para, além disso, as mulheres cuidam dos filhos, levam-no as escolas, cuidam dos maridos, e muitas inclusive são abandonadas e passam a criar suas famílias sozinhas sem auxilio de ninguém e são consideradas mãe/pai, pois mantém a família com trabalho e dignidade sozinhas, assegurando um futuro um pouco melhor para seus muitos filhos.

Dona Maria José (Zéo) foi incluída na pesquisa, quando em entrevista a própria comunidade de Conceição todos mencionavam o seu nome, pude perceber mesmo sem conhecê-la que a mesma era uma referência. Todos sabiam quem ela era, todos gostavam muito de falar sobre dona Zéo e este carinho todo não era só pelos 66 anos de reza e dedicação a saúde das pessoas, nem pelas poesias e discursos declamados nas Praças da Cidade, mas por ser uma mulher respeitada, querida e muito amada por todos os moradores da região. 

Abaixo vocês conhecerão um pouco mais da vida, da importância, das famílias e os legados das duas mestras do saber, que atualmente são meus objetos de pesquisa da dissertação do mestrado.

Mãe Silvia de Conceição de Salinas: 
A Matriarca que transmite legados da cultura afro-brasileira na região. 

Mão Silvia 

Nascida da Parteira Dona Filomena (Mãe da Parteira Rosa) como era comum numa comunidade carente e sem recursos de hospital e médico em pleno século XIX. Carmem Silvia Teixeira dos Santos na Cidade de Conceição de Salinas da Margarida (Que na época ainda era distrito de Itaparica) nasceu no dia 23 de Agosto de 1934. Ao nascer, a pequena Silvinha veio ao mundo predestinada a viver pela caridade e a fazer o bem.

Casa que nasceu a Mãe Silvia.

Cama que nasceu Mãe Silvia.
                                 
Filha de Maria José Teixeira e órfã de pai ainda menina, Mãe Silvia conhece com profundidade as dificuldades da vida. Marisqueira desde muito pequena, praticamente da Igreja Católica e devota de Nossa Senhora de Conceição, Dona Silvinha (como é conhecida no Povoado) dedicou seus quase 82 anos de vida de doação, caridade e entrega a esta comunidade.

Povoado de Conceição de Salinas

 Em 1955 Dona Silvia então com 21 anos casou-se com o Sr Letâncio Alvaro Marinho, filho de Manoel Ricardo Marinho e América Oliveira Marinho, de profissão pedreiro, também morador de Salinas nascido em 1938, 04 anos mais novo que ela, com quem teve três filhos.

Igreja de Nossa Senhora de Conceição - Construída em 1720


Dona Maria José “Zeo”: 
Devoção, arte e rezas tradicionais para manutenção da cultura popular da região.


Dona Zéo.

Dona Maria José Coelho Medina, mais conhecida como “Dona Zéo” nascida das mãos da Parteira Dona Rosa em 21 de Março de 1938, em Conceição de Salinas da Margarida. Filha de Feliciano de Paula Coelho (Falecido com 115 anos) e Maria Tomásia de Santana Coelho. Dona Zéo foi a filha caçula de uma família de 6 irmãs. Aos 12 anos, sem explicações ou aprendizados anteriores, percebeu que recebeu o dom das rezas curativas e orações, quando sua irmã recebeu na Feira do Japão no bairro da Liberdade em Salvador de um feirante um elogio e ficou com mau-olhado. A irmã bastante abatida pediu-lhe que procurasse a velha Ciriaca com na época 100 anos de idade para rezar-lhe ao que Dona Zéo de imediato se prontificou a fazer. Horas após a reza proferida por ela a irmã já estava bem, disposta e pronta para lavar roupas, conta ela.

Dona Zéo e "Seo" João: Momentos de um casamento feliz.
Paixão e Devoção de Dona Zéo por São José.
Dona Zéo desde então não parou mais de rezar, e tornou-se a rezadeira oficial de toda a sua família, amigos, conhecidos, vizinhos e de quem lhe procurava em busca de socorro, que ela fazia e faz por amor e caridade.
Dona Zéo, esposo e filhos.

Devota de São José, seu nome é uma homenagem ao seu nascimento um dia após o Dia de Santo Católico. Dona Zéo foi batizada, consagrada diante de Nossa Senhora de Conceição, crismada, fez primeira comunhão aos 14 anos, casou-se aos 26 com o Senhor João Madureira Medina, nascido em 18/01/1935 e falecido em 19/06/2007, comemorou bodas de ouro e próximo de celebrar as bodas de prata ficou viúva, de um casamento feliz, longo e apaixonado que lhe deu de presente 07 filhos.



ENTREVISTAS, FOTOS E VÍDEOS DA PESQUISADORA AS MESTRAS DO SABER


  
Ana Carla entrevista Dona Zéo: Rezadeira, Mãe de Leite, Poetisa e Oradora de Conceição de Salinas.


 
Ana Carla entrevista Dona Zéo: Rezadeira, Mãe de Leite, Poetisa e Oradora de Conceição de Salinas.

   
 Importância da Reza e da Mãe Silvia no Povoado de Conceição. 


  
Saber Popular de Dona Zeo.

 
 Ana Carla Nunes entrevista e Pesquisa a Mestra do Saber Mãe Silvia de Conceição de Salinas

 

 Ana Carla Nunes entrevista e Pesquisa a Mestra do Saber Mãe Silvia de Conceição de Salinas.

 

Mãe Silvia fala de Dona Zeo e de Conceição de Salinas.


 

Mãe Silvia de Conceição apresentando um dos altares do seu centro de umbanda.


DONA NILZA E SR MIGUEL ARAÚJO: MESTRES POPULARES, FAZEDORES DE CULTURA E PATRIMÔNIOS VIVOS DA CIDADE DE TAPEROÁ, BAIXO SUL DA BAHIA

 



A Cidade de Taperoá originou-se de uma aldeia indígena em 1561, passando ao longo dos tempos por diversas transformações até a sua constituição em cidade no século XIX.  É uma localidade pequena, constituída de praças, casarões coloniais, prédios históricos, atrativos naturais e patrimônios culturais, que em meio às evoluções e transformações sociais, mantém-se graças ao trabalho do Senhor Miguel Araújo com quase 90 anos de idade. Artista plástico local, pesquisador, pintor e escultor, e Dona Nilza Araújo 79 anos, sua esposa, mestra popular, apaixonada pela cultura local, costureira, artesã, poetisa e folclorista. Este simpático casal são profundos militantes da cultura e responsáveis pela manutenção da memória, de grande parte do folclore e dos festejos culturais da cidade.

 

TRABALHOS E IMPORTÂNCIA DO CASAL NA MANUTENÇÃO DA CULTURA POPULAR DO BAIXO SUL DA BAHIA



 DONA NILZA ARAÚJO– Nascida em 16 de Abril de 1942 na Zona Rural de Ituberá. Passou parte da sua infância em Cairú, e foi lá, que motivada por seus pais adotivos, começou sua paixão e trajetória de amante da cultura popular e folclorista. Aposentou-se como professora e ao longo de quase 8 décadas sua contribuição na preservação da cultura popular é enorme. Ela dá vida a Boneca Lili e a muitos personagens do folclore Taperoense, grande parte dele criado pelo seu marido Miguel. Participou do Terno Estrela do Oriente, canta e recita nos Desfiles Cívicos, é porta-bandeira dos desfiles municipais, participante ativa das atividades do Dia do Folclore, sai de Mandú, personagem do Zabiapunga, veste-se e costura as suas roupas de cigana, dondoca, traieira, alardo, samba de roda, bumba-meu-boi, terno de reis, barquinha. Vestia-se de anjo na festa de Nossa Senhora do Rosário, de anjo nas demais procissões locais, participava da quadrilha junina, dos Bailes da Chita, desde a infância.

Dona Nilza conheceu Miguel Araújo indo para uma festa na Igreja de Nossa Senhora de Conceição, casou-se com ele em 1959. Estão juntos e unidos em prol da cultura popular há mais de 60 anos. Juntos tiveram 3 filhos, sendo dois falecidos, netos e bisnetos.

 


 

MIGUEL ARAÚJO – Nasceu em Taperoá no dia 07 de maio de 1933, na Rua Poeta Oscar Pinheiro.  O Mestre Miguel Araújo aprendeu de maneira empírica desde a sua infância seus muitos ofícios. Tudo começou por volta dos 5 anos, nas pinturas dos passeios, madeiras e papéis. Sua produção cultural é enorme e o tempo inteiro é transformada em novos saberes, que são materializados nas suas produções artísticas feitas em ferro, palha, madeira, materiais recicláveis. Toda esta produção guarda de maneira significativa as memórias de um morador que convive há mais de 80 anos com a dinâmica das transformações da Cidade de Taperoá. Além disso, Mestre Miguel é um enorme pesquisador e desenhista da história de Taperoá. Um Artista Plástico que trabalha com muitas técnicas, todas elas voltadas a manutenção da história e da cultura do Baixo Sul da Bahia. Grande parte das igrejas da região possuem santos, restauros, figuras e obras feitas por ele.

 Este olhar de pertencimento é o que faz com que a cultura seja mantida de maneira essencial, tornando Miguel Araújo um profundo conhecedor, fazedor e mantenedor da rica produção cultural e história da Cidade de Taperoá-Bahia.

 

O MUSEU CASA MIGUEL ARAÚJO EM TAPEROÁ

 


O Casal Nilza e Miguel Araújo, reúne dentro da sua casa um grande acervo artístico. Cada canto é disputado e preenchido entre móveis e peças produzidas pelo escultor, criando assim, uma harmonia muito interessante. Os espaços desta casa e museu contém um pouco da história da cidade, esculturas de santos, pinturas, cadernos com poesias e coleções de obras de arte que simboliza a essência do seu pertencimento a Cidade de Taperoá. Todo este rico acervo, nos sensibiliza profundamente, pois somos conectados através do olhar de preservação do senhor Miguel e Dona Nilza Araújo. Conversar com o casal é ouvir excelentes narrativas que nos mostram uma Taperoá rica de cultura popular. As narrativas são concretizadas pelas ilustrações, pinturas e esculturas esculpida e bordada pelas mãos primorosas deste casal. 

Não se pode negar que é fundamental viajar ao Baixo Sul, conhecer o Museu Miguel Araújo em Taperoá sob a ótica deste casal de ilustres moradores, mostrando à todos nós que essa paixão pela cultura nutrida por eles, assegura a manutenção da cultura popular local e é legada para todas as gerações de visitantes e moradores desta ilustre cidade.

 

VISITA DOS ALUNOS DA PROFESSORA ANA CARLA NUNES – 2015









Essa visita teve como objetivo promover uma imersão dos alunos as obras e a vida de seu Miguel Araújo e Dona Nilza. Como estudantes e jovens, é importante o reconhecimento ao trabalho do casal em prol da cultura popular e a criação de uma relação de respeito a trajetória de vida e a experiência de mestres da cultura popular.

 











Fotos,Vídeos e Textos: Ana Carla Nunes.

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